Peraltices
Lembra aquela época em que a sua
"responsabilidade" era brincar? Pois é. Lembro bem de quando passei
por isso. Irmã mais nova de dois meninos, minhas brincadeiras no início foram
as propiciadas por eles e cheguei até mesmo a ser o brinquedo deles. Pode parecer
perigoso e até sofrível para mim, mas acredito que foi uma prova de amor, por
que convenhamos, largar a rua com todos os seus atrativos para brincar com a
irmãzinha não é qualquer menino que topa, certo?
Passando um pouco a frente, aprendi a
brincar sozinha, já que os meus irmãos cresceram e não me queriam no meio de
seus amigos. Me virava bem: adorava fazer roupas, shampoo e perfume para as
bonecas, comidinhas para a cachorra e até mesmo sair passeando com a coitada em
carrinho de boneca. Brinquei muito também de pular corda e elástico e de
"escolinha", mas o que eu mais queria era ficar em qualquer cantinho
lendo um gibi ou livro, mesmo sem ser alfabetizada. Talvez esse seja o motivo
de hoje eu ser tão sedentária: o gosto pela leitura. Não me levem a mal, a
leitura não é uma coisa ruim de jeito nenhum, o que quero dizer é que por
gostar muito de ler, não queria fazer mais nada, e aí, já viu, ficava sempre
ali, lendo.
Na pré-escola, tive a sorte de encontrar
boas professoras, que entendiam a necessidade da brincadeira e do lúdico. Vivia
apostando com um colega de sala e namoradinho quem comia mais, quem pulava mais
longe do balanço em movimento, quem passava pelas calhas sem se molhar com a
água da chuva ou quem recortava mais letrinhas de revista (isso eu sempre
perdia - ficava olhando as imagens e quando via todos já tinham terminado e eu
ainda estava no começo), entre tantas outras coisas que não consigo recordar.
Não tive sorte com o pessoal do meu
bairro, meus vizinhos eram todos mais velhos e amigos dos meus irmãos, que
agora só partilhavam comigo o gosto pela leitura. De tanto me deixarem de lado,
resolvi me voltar contra eles e passei a brincar de trocar os pares de meia,
colocar moedas nos sapatos e mexer em suas coisas, para irritar e chamar a
atenção.
Enfim, a criança que fui está relacionada
com os exemplos que tive e as possibilidades que pude aproveitar, como por
exemplo, o gosto dos livros que herdei de meus pais e irmãos desde muito nova,
as brincadeiras com a coitada da cachorra que comia bolo de ração com
achocolatado e sal porque eu não me decidia se queria salgado ou doce, a
competição de quem comia mais pedaços de melão na pré-escola, qual balanço ia
mais alto para saltar mais longe depois, de tantas outras recordações.
Como educadora, espero mostrar para meus
alunos o quanto é importante brincar. Não importa se o seu brinquedo é o melhor
ou o mais simples e se a sua brincadeira é só sua ou conhecida de todos,
importa que o brincar é fundamental na vida de uma criança e dirá muito sobre o
adulto que ela será um dia. Espero que meu sedentarismo diminua, para que eu
possa brincar junto, realizar a ação ao mesmo tempo da minha fala. Unir a
teoria à prática, vivenciar o grupo da faculdade que leva o nome de
"Práxicas".
"o brincar é fundamental na vida de uma criança e dirá muito sobre o adulto que ela será um dia. Espero que meu sedentarismo diminua, para que eu possa brincar junto, realizar a ação ao mesmo tempo da minha fala. Unir a teoria à prática, vivenciar o grupo da faculdade que leva o nome de "Práxicas"."
ResponderExcluirQue bela reflexão!!! Obrigada por compartilhar.