terça-feira, 17 de setembro de 2013

Narrativa - Miriane Justo

Peraltices

Lembra aquela época em que a sua "responsabilidade" era brincar? Pois é. Lembro bem de quando passei por isso. Irmã mais nova de dois meninos, minhas brincadeiras no início foram as propiciadas por eles e cheguei até mesmo a ser o brinquedo deles. Pode parecer perigoso e até sofrível para mim, mas acredito que foi uma prova de amor, por que convenhamos, largar a rua com todos os seus atrativos para brincar com a irmãzinha não é qualquer menino que topa, certo?
Passando um pouco a frente, aprendi a brincar sozinha, já que os meus irmãos cresceram e não me queriam no meio de seus amigos. Me virava bem: adorava fazer roupas, shampoo e perfume para as bonecas, comidinhas para a cachorra e até mesmo sair passeando com a coitada em carrinho de boneca. Brinquei muito também de pular corda e elástico e de "escolinha", mas o que eu mais queria era ficar em qualquer cantinho lendo um gibi ou livro, mesmo sem ser alfabetizada. Talvez esse seja o motivo de hoje eu ser tão sedentária: o gosto pela leitura. Não me levem a mal, a leitura não é uma coisa ruim de jeito nenhum, o que quero dizer é que por gostar muito de ler, não queria fazer mais nada, e aí, já viu, ficava sempre ali, lendo.
Na pré-escola, tive a sorte de encontrar boas professoras, que entendiam a necessidade da brincadeira e do lúdico. Vivia apostando com um colega de sala e namoradinho quem comia mais, quem pulava mais longe do balanço em movimento, quem passava pelas calhas sem se molhar com a água da chuva ou quem recortava mais letrinhas de revista (isso eu sempre perdia - ficava olhando as imagens e quando via todos já tinham terminado e eu ainda estava no começo), entre tantas outras coisas que não consigo recordar.
Não tive sorte com o pessoal do meu bairro, meus vizinhos eram todos mais velhos e amigos dos meus irmãos, que agora só partilhavam comigo o gosto pela leitura. De tanto me deixarem de lado, resolvi me voltar contra eles e passei a brincar de trocar os pares de meia, colocar moedas nos sapatos e mexer em suas coisas, para irritar e chamar a atenção.
Enfim, a criança que fui está relacionada com os exemplos que tive e as possibilidades que pude aproveitar, como por exemplo, o gosto dos livros que herdei de meus pais e irmãos desde muito nova, as brincadeiras com a coitada da cachorra que comia bolo de ração com achocolatado e sal porque eu não me decidia se queria salgado ou doce, a competição de quem comia mais pedaços de melão na pré-escola, qual balanço ia mais alto para saltar mais longe depois, de tantas outras recordações.
Como educadora, espero mostrar para meus alunos o quanto é importante brincar. Não importa se o seu brinquedo é o melhor ou o mais simples e se a sua brincadeira é só sua ou conhecida de todos, importa que o brincar é fundamental na vida de uma criança e dirá muito sobre o adulto que ela será um dia. Espero que meu sedentarismo diminua, para que eu possa brincar junto, realizar a ação ao mesmo tempo da minha fala. Unir a teoria à prática, vivenciar o grupo da faculdade que leva o nome de "Práxicas".

Um comentário:

  1. "o brincar é fundamental na vida de uma criança e dirá muito sobre o adulto que ela será um dia. Espero que meu sedentarismo diminua, para que eu possa brincar junto, realizar a ação ao mesmo tempo da minha fala. Unir a teoria à prática, vivenciar o grupo da faculdade que leva o nome de "Práxicas"."
    Que bela reflexão!!! Obrigada por compartilhar.

    ResponderExcluir